quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Meu pequeno fantoche

Um dia me disseram para não me apaixonar, me disseram também que amor não é eterno e que casamento não dura. Talvez por alguma exceção, tinha gente que fazia bodas de ouro e ainda era feliz. Eu disse que era uma EXCEÇÃO e logo percebo que eu não sou uma dessas exceções, nem muito menos merecedora de milagres.
Disseram-me pra ser racional. Assim o choque de uma traição era menor, a queda das nuvens pequena e a dor suportável. Aliás, era um conjunto de regras sem tamanho, onde o amor era um fantoche que podia ser facilmente manipulado. Eu cresci com isso na cabeça e hoje me chamam de racional. Ok. Consegui o que queria. Mas percebi que assim também não sou completamente feliz. Que talvez insegurança, traições, angústia e decepções são necessárias a vida de uma pessoa. Às vezes me sinto tão insensível que não posso sentir a mim mesma. Já faz parte da minha personalidade e pouco consigo mudar. Às vezes consigo ser um pouco doce e sensível. Até deixo que o amor bata um pouco das suas asas, mas depois o enjaulo novamente. Sou assim. O que eu vou ensinar a meus filhos? Que eles, por favor, amem e sem medos. Ai depois eles escolhem de qual brincadeira querem brincar: controlar o coração ou deixá-lo livre para pulsar.

domingo, 12 de agosto de 2007

À sombra - In memory

O que era uma sombra, agora começa a tomar forma. Depois de quinze anos você vem e diz para eu lhe pedir a benção. Só que mamãe não me ensinou isso. Ela dizia: ‘Essa história de benção é uma bobagem. Só Deus tem esse poder de abençoar. Peça a Ele.’ Você quer que eu lhe peça a benção? Eu peço, mas aviso: vai ser mecânico.

Eu não senti falta de almoçar com você nos domingos de dia dos pais. Não mesmo. Isso não é raiva pai, nem mesmo orgulho, mas não dá pra te chamar assim: pai. Não serve seu nome?

Eu não tenho raiva, porque minha vida não foi frustrada ante a sua ausência. Eu tenho uma mãe que sabe exercer plenamente dois papéis. Fique contente. O seu posto foi substituído por uma guerreira, e ela o ocupa muito melhor que você. Disso você pode ter certeza.

Somos parecidos isso é um fato. Os olhos, o nariz, as sobrancelhas. Na dança também. Isso até faz você ter alguma referência pra mim. A sua sombra pode até tomar alguma forma, mas sempre vai ser oca no centro, mas pra cima, do lado esquerdo. Isso mesmo, no lugar do coração. E no meu há uma armadura contra você. Desculpe, mas eu não quero desarmá-la. Tá bom assim.

Às vezes sinto falta das broncas que você poderia ter me dado, de alguns passeios com você, de alguém pra me levar para cama quando eu tivesse dormindo no sofá. Queria ter histórias verdadeiras pra contar sobre você e não ter que ser obrigada a inventar uma. Mas você não é exatamente o pai que eu queria. Por isso não me vem a falta, a tristeza ou a revolta. Simplesmente a ignorância. Desculpe novamente, mas mamãe me ensinou a ser sincera. Você poderia não estar lendo isso agora, mas você não me ensinou a amenizar as palavras.

Feliz dia das sombras.

sábado, 11 de agosto de 2007

Deseje o simples

Da visão,
À espera do pote d’ouro
No fim do arco da íris.
Uma dúbia ilusão, ótica ou não.

De contos ninados,
Sonhos embalados.

De jatos de tinta,
O abstrato.

Das multifacetas
De um prisma ensolarado,

Do farfalhar das asas
Da guarda do nosso anjo.

Do choro das crianças,
Tristes cacos fônicos.

Da real a eza,
Da má a jestade,
Do encanto dos príncipes,
O sonho doce de meninice.

Porque é do simples
É do puro.
Da preservação da inocência
Que se faz a riqueza
Que tanto nos implora a vida

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Destino

Rindo, Rafael terminava de ajeitar os laços que enfeitavam os cachos dourados das meninas. Pela primeira vez ele sentia como era incômodo ter... Asas. Hoje ele amanhecera com essa sensação estranha.
Falando em sensação, ele gostava dessa história de sentir. Uma grande vitória vencida pelos anjos. Todos queriam ter sentimentos humanóides, obviamente que com algumas restrições, jamais poderiam sentir ódio e raiva. Mas podiam ficar alegres, tristes, rir, sentir amor... E era isso que fazia os irmãos Alice e Pedro – a quem Rafael guardava na terra – sentirem a presença de um alguém que os protegia.
Longe de quem pensa que cada humano tenha um anjo da guarda só pra si. Alguns amigos de Rafael possuíam até dez guardadores, mas ele preferia ter apenas dois, assim podia se dedicar melhor a eles. Na verdade, sua vida de anjo era fazer com que nenhum mal chegasse perto deles, reger-lhes, guarda-lhes... E nem era preciso eles juntarem suas mãozinhas e pedirem essa proteção, numa oração típica dos humanos. Independente de qualquer coisa, Rafael estava ali.
Ele adorava observar a vida de Alice e Pedro, meninos bem educados, que agora já eram adolescentes. Entristecia-se quando faziam alguma besteira e ele tinha que se desdobrar para salvar-lhes das conseqüências. Porque quando algo acontece a alguém, é porque seu anjo da guarda falhou, e Rafael fazia tudo para não falhar, poucas foram as vezes que isso acontecera.
Mas o que mais lhe entristecia não era seus guardadores não se preocuparem com as suas próprias vidas, mas sim não poder conversar com eles, ser amigo, compartilhar momentos...
A primeira regra dos anjos era clara: Jamais se revelar.
Prendendo o último laço no cabelo de Clarice, ele criou coragem e falou:
- Não quero mais ser anjo.
Clarice virou-se tão bruscamente que suas asas roçaram em seu rosto
- O quê? Rafael... Isso é loucura!
Bem que ela queria ouvir Rafael dizer que era tudo uma grande brincadeira, mas conhecia-o a ponto de saber que ele não falava uma coisa dessas à toa. Mas ela ia tentar:
- Rafael você sabe que isso é uma decisão sem volta! Imperdoável para quem aceitou a missão de ser anjo. Além de tudo, que conseguir isso é muito difícil.
- Clara... Eu venho pensando isso há tanto tempo! Mas a vontade surgiu e não consigo mais esquecer, parece que minha vida só vai ser vida se eu... descer. Quero ser amigo de Alice e Pedro, na verdade é o que mais quero, tenho certeza que seremos tão unidos!
Clarice tentava convencê-lo, na verdade para não perder um amigo, mas sempre notara essa vontade de Rafael, sempre querendo ser diferente, sempre querendo ser... Humano:
- Já que você falou nos irmãos Alice e Pedro, já pensou como eles vão ficar? Sem anjo da guarda? E como você vai conseguir essa façanha, de... de descer?
Rafael já tinha pensado em detalhes e ponderado tudo.
- Eu já tenho certeza do que quero... Ah, e você sabe! Pode muito bem guardá-los para mim, e lá na terra eu vou sempre protegê-los. Os amigos sempre querem bem
uns aos outros... E quanto a descer, vou fazer como os outros fazem, conversar com Deus.
Clarice suspirou triste e vencida.
- Desejo-te boa sorte, meu bom Rafael. Você merece o que quiser, cumpriu sua missão como ninguém... Vejo que essa sempre foi a sua vontade, e se sua felicidade está além dessas nuvens, vai.
Rafael ia sentir saudades daquela anjinha. Aliás, saudade era um sentimento humano belo pela sua ambigüidade: bom ao mesmo tempo que triste. E isto o fazia admirar ainda mais aquelas pessoas.
Sua conversa com Deus fora rápida, afinal Ele já sabia que a decisão de Rafael era sem volta, pediu apenas que continuasse sua missão na terra, e disse que teria a sua união com aqueles irmãos abençoada.
Suas asas sumiram, a auréola desapareceu, não se despediu e Desceu.

Um ano depois haviam três adolescentes conversando sobre o futuro. Um deles com traços deveras angelicais.
Uma garota empolgada dizia:
- Sabe... quando entrarmos para a faculdade bem que poderíamos morar juntos. Rafael, você vai conosco, não vai?
Sem pensar Rafael já sabia a resposta:
- Vou aonde vocês forem... Já vivemos tanta coisa em tão pouco tempo, que é o suficiente para sabermos que jamais vamos nos separar.
Um outro menino sorrindo falou:
- Almas trigêmeas Rafa pode ter certeza. Vamos uns com os outros a qualquer lugar do mundo.
Abraçaram-se e emocionaram-se. Uma amizade que mais parecia divina, de outro mundo. E Rafael riu intimamente, lá no céu amizades fortes assim eram as almas gêmeas que os humanos tanto falavam, mas nunca souberam ao certo o que era. Alma gêmea é nada mais, nada menos que um anjo que desceu a terra para te acompanhar.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Sobre a palavra [e tudo mais]

Falar da palavra é difícil. Principalmente da que se põe no papel, onde a entonação é o leitor quem faz e não se corre riscos de interpretações equivocadas. É muito mais do que diz a metalinguagem. É incrível o que esse tipo de palavra pode provocar. Um texto, uma poesia, uma letra de música... Por falar em música, eu acho ser a forma mais difícil de se usar a palavra. Não porque deve existir uma harmonia entre letra e melodia, mas porque é difícil compor uma. Não basta sentar e escrever. Eu mesma já me arrisquei a compor músicas e mesmo que me pareçam um fracasso não foi fácil fazê-las. E foi aí que eu acreditei que a música vem de alguma inspiração divina. É incrível como ela só me aparece nas horas mais impróprias. Essa tal ‘luz’ só acontece quando estou no banho ou deitada na cama lutando contra a insônia para dormir. São momentos que não se podem desperdiçar. Muitas vezes por preguiça eu perdi canções lindas. ‘Amanhã ao acordar eu coloco no papel’, e cantava até memorizar o suficiente para cair no sono. Mas eu nunca aprendi. Ao acordar sempre esquecia da música, e passava o dia amuada por ter perdido a oportunidade. Que coisa chata! Mas chato mesmo é não saber como terminar um texto. Um texto, algo tão simples! Não é uma poesia, não é uma carta, é apenas um texto como esse aqui. Que qualquer pessoa escreve em seu blog. Por isso eu digo tchau e vocês, por favor, interpretem como um ponto final