quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Core sua alma - Coração

O que não cessa,
O que nos fere sem arma,
O que dá saltos sem trampolim,
O que desafia nossa mente
e briga com a razão.

O que preenche nossa alma,
revigora e transforma tudo,
em sonhos nada lúcidos.

O que nos engana,
e nós da certeza.
O professor do amor,
sem nem ao menos esperar que terminemos
o ABC. Sem saber. Porque?

O que tem voz,
mas não fala.
O que tem caminho,
que nem sempre pode ser seguido.

O que transforma,
nos borra,
nos cora.

O que se finge,
e se inibe.
O que sente dor,
não grita,
mas chora.

O que manda,
e não obriga.

O que sente ódio,
sente repulsa,
e ainda assim pulsa.

O que é um órgão
que parece gente
dentro do peito,

espremido, incompreendido,
mas nos dando sentido,
a nossa alma oras ferida.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

sem-título

Morrer,
Semi-cerrar os olhos,
Mudar de mundos,
Reviravolta.

Deixas,
Pertences,
Parentes,
Amores.

Calar,
A voz,
O soluço,
A alma, talvez.

Pintar,
De bom,
De coitado,
De santo.

Sentir,
Pena,
Dor,
Remorso.

Vontade,
De falar,
De abraçar,
De olhar
em olhos vivos,
outra vez.

Pela ultima vez,
Beijar,
Sorrir,
Agradar.

sábado, 17 de novembro de 2007

destinatário

Uma carta com palavras bonitas vale muito mais. Abrir uma correspondência tem a emoção que um e-mail eletrônico jamais poderá ter. É questão de veracidade. Parece que o papel em mãos é mais real. Você pode ler, reler, dobrar e guardar numa gaveta. Depois voltar a ler novamente até o papel ficar gasto, ficar amarelo. E para isso não é preciso você ligar uma máquina, conectar-se a uma rede. Quem escreve num papel, envelopa, sela e coloca na caixa de correios e espera ( sim, porque a espera é que dá toda a emoção), enfim, quem se dá a todo esse trabalho realmente queria fazer isso. Mas eu não posso falar muita coisa. Tenho um blog em qual escrevo minhas coisas. Poderia ter um diário para guarda-lo e ler a toda hora? Poderia. Não seria mais real? Seria. Então descobri que sou contraditória. Mas não se espante caso receba uma carta minha.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

O bom gosto da vitória

A menina foi atrás do que queria. Seu melhor amigo virou e disse: “Você não vai conseguir. Se eu pudesse não te ajudaria nessa.” Ela o olhou com amargura e se questionou calada se ele era realmente o seu melhor amigo. Que amigo era aquele que não sabia incentivar? Ela nunca faria isso com ele. Não mesmo. Começou a chorar. Na frente dele. Ah, como ela desejou se matar por causa disso. Mostrou a sua fraqueza. A sua insegurança, porque, o mais provável era ela não conseguir. Era como ir atrás do pote de ouro no fim do arco-íris, num tempo muito curto. Queriam colocar na sua cabeça que aquilo era uma bobagem. Mas não era. Não para ela.
O seu amigo não se compadeceu com suas lágrimas. Ele estava meio transtornado. Talvez mais tarde se arrependesse do que havia dito. Ela sabia que ele não gostava de magoá-la. Mas magoou. Nada não. As lágrimas foram enxutas. O soluço engolido de modo a doer na garganta. E um sentimento que poucas vezes sentira em sua vida veio à tona naquele momento: vingança. Não uma vingança má, de querer dar o troco. Apenas uma vontade de calar a boca daqueles que duvidaram. De mostrar que PODIA e que IA conseguir. Não importa como ou o quanto se esforçasse. Mas era uma questão de honra.
Quinze dias depois. Muito antes do previsto, a menina conseguira. E não hesitou em ligar para seu amigo: “Consegui. A minha festa de formatura vai sair!” O que ela escutou? Uma vibração do outro lado da linha: “ Meus parabéns! Você é demais, sempre consegue o que quer”. Ok, ok talvez ele realmente não tivera a vontade de lhe magoar. Mas estava feliz agora. Era muito bom vencer.

Para trás ou em frente?

Sabe quando você descobre que ir atrás de um sonho pode destruir tantos outros? E você se encontra no dilema sem saber qual deles escolher pra destruir? Lutar e vencer esse é o lema que rege minha vida, e todos que me conhecem devem saber disso. Desafio. Adoro. É difícil? Muito difícil? Então é o que eu quero. Eu quero alçar vôou. Sempre pro alto e avante. Mas tantas coisas me impossibilitam disso... Meu ponto fraco é sentir demais. Eu sinto porque ir atrás do meu sonho significa deixar muitas pessoas que amo pra trás. É fazer os relacionamentos que tanto conquistei entrarem em conflito. E agora eu já não tenho mais tanta certeza assim. O que eu quero pra minha vida? Ser médica. Essa é a resposta. Isso é um sonho. O meu maior sonho. E quantas pessoas não entendem isso? Vou ter que mudar de cidade, de vida, de rotina pra conseguir esse sonho. E será que só as pessoas que vão ficar irão sentir? E eu? O que vou sentir? Medo, insegurança, incerteza. Será que ficar e me acomodar, não seria mais fácil? Tenho que ter muita certeza do que é melhor pra mim. Porque ninguém mais me diz isso. Só eu e eu. Foi a escolha que fiz. E se ela der errado? Se eu não conseguir? E se conseguir será que no fim vou estar plenamente feliz? Orgulhosa de mim? Ou vou ver que deixei coisas para trás que se perderam e que nunca mais vou conquistar?

As pessoas das quais eu precisava ouvir: Vai em frente. Simplesmente não me dizem nada. Mas eu sei que preferem que eu fique no retardo. Não vêem que eu preciso ir atrás das minhas coisas. Ter as minhas conquistas e que isso é essencial para qualquer ser humano. Eu não quero demais. Eu só quero seguir em frente e depois olhar pra trás e ver que construí alguma coisa. Eu não quero mais depender. Eu quero em algumas horas me sentir auto-suficiente. E isso é querer demais? Tenho certeza que não. Quero pôr em risco mesmo assim. O tentar e errar ainda assim vai ser bom pra mim. E eu tenho que estar certa disso, me apegar a isso e lembrar sempre que me der vontade de desistir.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O tempo certo

Com o tempo você vai aprendendo certas coisas. Vai aprendendo que ser uma pessoa educada, se ganha muito mais. Que em certas horas é melhor ficar calado e que em outras se ficar calado te fazem de besta. Você aprende que o amor é o sentimento mais belo do mundo, mas aprende também que nem todo mundo vai compartilhar ele com você, ou dar o mesmo valor que você dá a ele. Você aprende a engolir sapos pra conviver com alguém, e dizer que é assim que vocês se dão bem. Aprende que paciência é uma das maiores virtudes e que ela não deve ter limites: perdê-la pode ser um perigo. Ser grosseiro é feio, ser bondoso demais é tolice. Aprende que o mundo é uma eterna competição e que rasteiras serão dadas em você. Aprende que as injustiças acontecem e que se indignar com isso vai se tornar tão natural quanto achar o injusto natural ( deu pra entender isso aqui? ). Aprende que algumas coisas são importantes, quase essenciais e que de repente elas já não tem a menor graça. Aprende a dura realidade de que não existem amizades, nem amores para sempre. Por que a vida muda e novas pessoas aparecem, os nossos gostos mudam e nós mudamos. Aprendemos que os erros é quem mais nos ensinam, que amanhã tudo pode mudar e que o tempo é quem enxuga nossas lágrimas. E que se não assimilamos tudo isso e não aprendemos de maneira rápida e eficaz, o mundo nos engole, as pessoas passam a nossa frente e nós ficamos para trás perdidos, atrasados, arrasados, marginalizados.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

torn.

Está tudo pelo avesso. Eu não consigo me organizar. Falta tato, falta senso. Falta coragem. A preguiça que briga com a consciência. Devo fazer, mas não faço. Devo estudar, mas não estudo. Devo organizar meus horários, mas não organizo. Que fase meu Deus! Preciso emagrecer, mas não tomo uma atitude. Preciso ler mais, mas enjoou da leitura fácil. Preciso juntar dinheiro e comprar mais coisas pra mim – e isso é possível – mas quando vejo não tenho dinheiro nem pra comprar um grampo. E pra onde ele foi? Sei lá! E não vou nem falar de sentimentos. Há um caos dentro de mim. No amor, amigos e família. Nada em perfeita harmonia pra amenizar. Que droga!

Sonhos

Eu gosto dessa palavra. Eu gosto de me permitir sonhar sem tirar os pés do chão. Como isso acontece? Sei lá acho que só eu sei. Mas eu sonho alto nos sonhos, e na
realidade sou racional. Talvez por temer que os meus sonhos não se realizem, porque eles chegam quase a ser utópicos.
Mas vamos falar de sonhos que se sonha dormindo. Não falo de sonho-desejo. Falo daquele inconsciente que vem quando você encosta a cabeça no travesseiro. Seria ele tão inconsciente assim? Tenho minhas dúvidas. Às vezes eu sonho coisas loucas, sem sentido, sem noção. Mas outras tantas, sonho o que na realidade eu sempre quis realizar. É no sonho onde tudo se realiza. Para os sonhos não há segredos. No sonho a gente revela ao mundo aquela paixão contida. Passeia de mãos dadas com ela, e até mesmo tem coragem de se declarar. É nos sonhos que aparecem os nossos medos. Quando tememos alguma coisa, vêm os pesadelos. Pesadelo é só um sonho mal. Acho que explicarei assim aos meus filhos.
Já sonhei realizando tanta coisa...
Nos meus sonhos parece não existir fracasso. Queria ser a menina dos meus sonhos. A Thaisa que não teme errar ou perder, vai em busca dos seus desejos simplesmente porque é preciso ir. É preciso tentar. Bom, mas enquanto eu não sou assim, vou andando e sonhando e cantando e seguindo junto com a canção. Sem esquecer de ser feliz, afinal eu me permito tudo isso. Eu me permito sonhar. E isso é o mais importante. All right?

sábado, 22 de setembro de 2007

Minha infância

A infância é sem dúvida a melhor fase da vida. A gente faz tudo o que dá vontade, sem ponderações, sem se preocupar com o que o outro vai pensar. Faz por que deu vontade, por que aquilo vai te fazer bem, sem saber se é certo ou errado. Mas sempre é certo para nós.
É a fase em que há imaginação para tudo. Quem teve infância, já teve um amigo imaginário. Eu tive. Era um menino americano loirinho. O nome? Bom, é muito complicado, acho que só existe mesmo a pronúncia. A gente brincava muito e competia bastante. Quem sempre ganhava? Eu. Lógico. Mas ele não se chateava. Era muito bom brincar com ele. E conversar também. Ele me era todo ouvidos. Ele aparecia sempre quando eu queria, e desaparecia quando eu tava de saco cheio. Ele me entendia. Hoje ele não existe mais, mas é incrível como a imaginação toma proporções quase reais. O seu rosto ainda é nítido na minha mente.
Não teve criança que não inventou brincadeiras. A sua brincadeira. A sua maneira de brincar. Eu era maloqueira de rua. E isso era o melhor. Era metida a vendedora também. Fiz mesinha pra alugar gibis. Fiz perfume de mato e coloquei em frascos velhos. O preço era amigo: 1 real. Levei muita queda de patins, bicicleta, carrinho de rolimã e afins. Os joelhos eram pretos de viver no chão. Nem lembro de estudar nessa época... Agora – não muito tempo depois – meu passatempo é filosofar em frente ao computador. Arrumar umas palavras de forma meio besta e relembrar os velhos tempos. É, hoje estou nostálgica. Mas pelo menos tenho o que relembrar e isso é o que muitas vezes te sustenta. Chega, isso já ta virando um saudosismo insuportável. Até outro dia, com um humor mais agradável. Hasta la vista.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

3 minutos

O médico, sentado à cabeceira da cama disse:
- Lamento muito, mas você só tem 3 minutos.
As palavras pareceram chicotear em seu rosto, mas logo em seguida veio uma calma absoluta. O que fazer com 3 minutos restantes de sua vida? Nada parecia absurdo. Tudo já não dava mais. De repente lhe vieram bobagens à mente. Os e-mails que recebera ao longo da vida. Muitos diziam para aproveitá-la ao máximo, não deixar para o amanhã o que se podia fazer hoje, que talvez não houvesse tempo para dizer palavras doces ou realizar um sonho... Pensou também como o tempo estava passando rápido naquele ano... Mas parou de pensar. Que bobagem! Estava morrendo, oras! 2 minutos. Apenas 2 minutos. Pensou nas pessoas queridas. Nenhuma delas ali. Certamente ninguém imaginaria que estava morrendo agora. Não sentiu tristeza, um pouco de medo, talvez. O que lhe esperaria? Faltava um minuto para saber. Então olhou para o médico ao seu lado. Ele nada falava, lhe fazia um silêncio em respeito. Ele se esforçara com tanto empenho para lhe deixar viva... Era a única pessoa que estava partilhando o momento mais importante de sua vida.
Ela nunca se perguntara o que faria se tivesse somente três minutos de vida e agora não sabia o que fazer.
- Eu te amo.
O médico pareceu surpreso. Ela o amava? Não! Era a primeira e última vez que o estava vendo. Mas queria fazer de seu último minuto o mais belo. Ela tivera a oportunidade de escolher o que fazer com seu último minuto de vida. As suas últimas palavras foram as mais simples e mais belas. Ela era privilegiada. Quem sabe sua história não viraria um e-mail? O QUE VOCÊ FARIA SE TIVESSE APENAS 3 MINUTOS DE VIDA? Riu da sua própria piada e se foi.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Meu pequeno fantoche

Um dia me disseram para não me apaixonar, me disseram também que amor não é eterno e que casamento não dura. Talvez por alguma exceção, tinha gente que fazia bodas de ouro e ainda era feliz. Eu disse que era uma EXCEÇÃO e logo percebo que eu não sou uma dessas exceções, nem muito menos merecedora de milagres.
Disseram-me pra ser racional. Assim o choque de uma traição era menor, a queda das nuvens pequena e a dor suportável. Aliás, era um conjunto de regras sem tamanho, onde o amor era um fantoche que podia ser facilmente manipulado. Eu cresci com isso na cabeça e hoje me chamam de racional. Ok. Consegui o que queria. Mas percebi que assim também não sou completamente feliz. Que talvez insegurança, traições, angústia e decepções são necessárias a vida de uma pessoa. Às vezes me sinto tão insensível que não posso sentir a mim mesma. Já faz parte da minha personalidade e pouco consigo mudar. Às vezes consigo ser um pouco doce e sensível. Até deixo que o amor bata um pouco das suas asas, mas depois o enjaulo novamente. Sou assim. O que eu vou ensinar a meus filhos? Que eles, por favor, amem e sem medos. Ai depois eles escolhem de qual brincadeira querem brincar: controlar o coração ou deixá-lo livre para pulsar.

domingo, 12 de agosto de 2007

À sombra - In memory

O que era uma sombra, agora começa a tomar forma. Depois de quinze anos você vem e diz para eu lhe pedir a benção. Só que mamãe não me ensinou isso. Ela dizia: ‘Essa história de benção é uma bobagem. Só Deus tem esse poder de abençoar. Peça a Ele.’ Você quer que eu lhe peça a benção? Eu peço, mas aviso: vai ser mecânico.

Eu não senti falta de almoçar com você nos domingos de dia dos pais. Não mesmo. Isso não é raiva pai, nem mesmo orgulho, mas não dá pra te chamar assim: pai. Não serve seu nome?

Eu não tenho raiva, porque minha vida não foi frustrada ante a sua ausência. Eu tenho uma mãe que sabe exercer plenamente dois papéis. Fique contente. O seu posto foi substituído por uma guerreira, e ela o ocupa muito melhor que você. Disso você pode ter certeza.

Somos parecidos isso é um fato. Os olhos, o nariz, as sobrancelhas. Na dança também. Isso até faz você ter alguma referência pra mim. A sua sombra pode até tomar alguma forma, mas sempre vai ser oca no centro, mas pra cima, do lado esquerdo. Isso mesmo, no lugar do coração. E no meu há uma armadura contra você. Desculpe, mas eu não quero desarmá-la. Tá bom assim.

Às vezes sinto falta das broncas que você poderia ter me dado, de alguns passeios com você, de alguém pra me levar para cama quando eu tivesse dormindo no sofá. Queria ter histórias verdadeiras pra contar sobre você e não ter que ser obrigada a inventar uma. Mas você não é exatamente o pai que eu queria. Por isso não me vem a falta, a tristeza ou a revolta. Simplesmente a ignorância. Desculpe novamente, mas mamãe me ensinou a ser sincera. Você poderia não estar lendo isso agora, mas você não me ensinou a amenizar as palavras.

Feliz dia das sombras.

sábado, 11 de agosto de 2007

Deseje o simples

Da visão,
À espera do pote d’ouro
No fim do arco da íris.
Uma dúbia ilusão, ótica ou não.

De contos ninados,
Sonhos embalados.

De jatos de tinta,
O abstrato.

Das multifacetas
De um prisma ensolarado,

Do farfalhar das asas
Da guarda do nosso anjo.

Do choro das crianças,
Tristes cacos fônicos.

Da real a eza,
Da má a jestade,
Do encanto dos príncipes,
O sonho doce de meninice.

Porque é do simples
É do puro.
Da preservação da inocência
Que se faz a riqueza
Que tanto nos implora a vida

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Destino

Rindo, Rafael terminava de ajeitar os laços que enfeitavam os cachos dourados das meninas. Pela primeira vez ele sentia como era incômodo ter... Asas. Hoje ele amanhecera com essa sensação estranha.
Falando em sensação, ele gostava dessa história de sentir. Uma grande vitória vencida pelos anjos. Todos queriam ter sentimentos humanóides, obviamente que com algumas restrições, jamais poderiam sentir ódio e raiva. Mas podiam ficar alegres, tristes, rir, sentir amor... E era isso que fazia os irmãos Alice e Pedro – a quem Rafael guardava na terra – sentirem a presença de um alguém que os protegia.
Longe de quem pensa que cada humano tenha um anjo da guarda só pra si. Alguns amigos de Rafael possuíam até dez guardadores, mas ele preferia ter apenas dois, assim podia se dedicar melhor a eles. Na verdade, sua vida de anjo era fazer com que nenhum mal chegasse perto deles, reger-lhes, guarda-lhes... E nem era preciso eles juntarem suas mãozinhas e pedirem essa proteção, numa oração típica dos humanos. Independente de qualquer coisa, Rafael estava ali.
Ele adorava observar a vida de Alice e Pedro, meninos bem educados, que agora já eram adolescentes. Entristecia-se quando faziam alguma besteira e ele tinha que se desdobrar para salvar-lhes das conseqüências. Porque quando algo acontece a alguém, é porque seu anjo da guarda falhou, e Rafael fazia tudo para não falhar, poucas foram as vezes que isso acontecera.
Mas o que mais lhe entristecia não era seus guardadores não se preocuparem com as suas próprias vidas, mas sim não poder conversar com eles, ser amigo, compartilhar momentos...
A primeira regra dos anjos era clara: Jamais se revelar.
Prendendo o último laço no cabelo de Clarice, ele criou coragem e falou:
- Não quero mais ser anjo.
Clarice virou-se tão bruscamente que suas asas roçaram em seu rosto
- O quê? Rafael... Isso é loucura!
Bem que ela queria ouvir Rafael dizer que era tudo uma grande brincadeira, mas conhecia-o a ponto de saber que ele não falava uma coisa dessas à toa. Mas ela ia tentar:
- Rafael você sabe que isso é uma decisão sem volta! Imperdoável para quem aceitou a missão de ser anjo. Além de tudo, que conseguir isso é muito difícil.
- Clara... Eu venho pensando isso há tanto tempo! Mas a vontade surgiu e não consigo mais esquecer, parece que minha vida só vai ser vida se eu... descer. Quero ser amigo de Alice e Pedro, na verdade é o que mais quero, tenho certeza que seremos tão unidos!
Clarice tentava convencê-lo, na verdade para não perder um amigo, mas sempre notara essa vontade de Rafael, sempre querendo ser diferente, sempre querendo ser... Humano:
- Já que você falou nos irmãos Alice e Pedro, já pensou como eles vão ficar? Sem anjo da guarda? E como você vai conseguir essa façanha, de... de descer?
Rafael já tinha pensado em detalhes e ponderado tudo.
- Eu já tenho certeza do que quero... Ah, e você sabe! Pode muito bem guardá-los para mim, e lá na terra eu vou sempre protegê-los. Os amigos sempre querem bem
uns aos outros... E quanto a descer, vou fazer como os outros fazem, conversar com Deus.
Clarice suspirou triste e vencida.
- Desejo-te boa sorte, meu bom Rafael. Você merece o que quiser, cumpriu sua missão como ninguém... Vejo que essa sempre foi a sua vontade, e se sua felicidade está além dessas nuvens, vai.
Rafael ia sentir saudades daquela anjinha. Aliás, saudade era um sentimento humano belo pela sua ambigüidade: bom ao mesmo tempo que triste. E isto o fazia admirar ainda mais aquelas pessoas.
Sua conversa com Deus fora rápida, afinal Ele já sabia que a decisão de Rafael era sem volta, pediu apenas que continuasse sua missão na terra, e disse que teria a sua união com aqueles irmãos abençoada.
Suas asas sumiram, a auréola desapareceu, não se despediu e Desceu.

Um ano depois haviam três adolescentes conversando sobre o futuro. Um deles com traços deveras angelicais.
Uma garota empolgada dizia:
- Sabe... quando entrarmos para a faculdade bem que poderíamos morar juntos. Rafael, você vai conosco, não vai?
Sem pensar Rafael já sabia a resposta:
- Vou aonde vocês forem... Já vivemos tanta coisa em tão pouco tempo, que é o suficiente para sabermos que jamais vamos nos separar.
Um outro menino sorrindo falou:
- Almas trigêmeas Rafa pode ter certeza. Vamos uns com os outros a qualquer lugar do mundo.
Abraçaram-se e emocionaram-se. Uma amizade que mais parecia divina, de outro mundo. E Rafael riu intimamente, lá no céu amizades fortes assim eram as almas gêmeas que os humanos tanto falavam, mas nunca souberam ao certo o que era. Alma gêmea é nada mais, nada menos que um anjo que desceu a terra para te acompanhar.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Sobre a palavra [e tudo mais]

Falar da palavra é difícil. Principalmente da que se põe no papel, onde a entonação é o leitor quem faz e não se corre riscos de interpretações equivocadas. É muito mais do que diz a metalinguagem. É incrível o que esse tipo de palavra pode provocar. Um texto, uma poesia, uma letra de música... Por falar em música, eu acho ser a forma mais difícil de se usar a palavra. Não porque deve existir uma harmonia entre letra e melodia, mas porque é difícil compor uma. Não basta sentar e escrever. Eu mesma já me arrisquei a compor músicas e mesmo que me pareçam um fracasso não foi fácil fazê-las. E foi aí que eu acreditei que a música vem de alguma inspiração divina. É incrível como ela só me aparece nas horas mais impróprias. Essa tal ‘luz’ só acontece quando estou no banho ou deitada na cama lutando contra a insônia para dormir. São momentos que não se podem desperdiçar. Muitas vezes por preguiça eu perdi canções lindas. ‘Amanhã ao acordar eu coloco no papel’, e cantava até memorizar o suficiente para cair no sono. Mas eu nunca aprendi. Ao acordar sempre esquecia da música, e passava o dia amuada por ter perdido a oportunidade. Que coisa chata! Mas chato mesmo é não saber como terminar um texto. Um texto, algo tão simples! Não é uma poesia, não é uma carta, é apenas um texto como esse aqui. Que qualquer pessoa escreve em seu blog. Por isso eu digo tchau e vocês, por favor, interpretem como um ponto final